sexta-feira, 30 de junho de 2017



OS DOIS PILARES - Frassino Machado 

“A São Pedro e São Paulo”

Simão Pedro, Simão Pedro –
Tu, que és cá um dos meus –
Soprou-me o vento do cedro
Que eras “porteiro” de Deus.

Também Cristo t´ ordenou,
Dando-te as chaves do céu,
Provando que te perdoou
Ao esquecer o teu labéu.

Apesar de seres pescador
E sem grande aprendizado,
Deu-te destaque e valor
Fazendo-te Seu delegado.

Consultei Paulo de Tarso,
Que n´ altura era novato:
Disse-me com embaraço
Desconhecer tal Contrato.

Se Paulo te desconhecia –
Entende-se o seu critério –
Nunca foi tua companhia
E vagueava pelo império.

Num certo dia em viagem
Sabendo do seu paradeiro
Com uma simples mensagem
Chamaste-o pra companheiro.

Tu tinhas alguns direitos
E, Paulo, direitos tinha
No melhor dos teus preceitos
Agiste com cabecinha.

Estava fraca a Instituição
Quase em todos os lugares
Tu e Paulo, por vocação,
Fizestes-vos dela Pilares.

O teu saber condicionado
Realçou-te a experiência
E, porque eras respeitado,
Tiveste enorme influência.

Paulo, porém, com instrução
Num Logos de todas as frentes,
Estruturando a Instituição
Fez-se o Apóstolo das gentes.

Tu não “conhecias” Jesus,
Disseste uma noite à criada,
Mas dentro de ti fez-se Luz
Numa Alma renovada.

E Paulo perseguiu Jesus
Fazendo-se d´ Ele carrasco
Mas, agora, todo ele transluz
Pelo caminho de Damasco.

Pedro e Paulo, dois Pilares,
Foram a Chave e a Espada
Dos sublimes patamares
Da Igreja Ressuscitada.

Tu, Pedro, a pedra angular
E da Fraternidade artífice,
Foste uma Aura exemplar
E o seu primacial Pontífice.

Tu, Paulo, foste o talento
Da Doutrina criadora,
Moinho tocado a Vento
Dando pão a toda a hora.

Se mais nada fora jucundo
Dois, em um, é mais solene
Dá maior riqueza ao mundo
Num Cristianismo perene!

Frassino Machado
In JANELAS DA ALMA


quarta-feira, 17 de maio de 2017

FLOR DE NOSTALGIA





Abrótea da minha terra, 

Terna flor de nostalgia,

Em ti a saudade encerra

Toda a minha fantasia.



Memória da minha andança

Pelas vertentes da serra

Lembra o tempo de criança,

Abrótea da minha terra.



Minha mãe ao monte subiu

A colher uma abrótea esguia

Deu-me a mais branca e sorriu,

Terna flor de nostalgia.



De um sentimento materno

Qu´ esta minh´ alma desterra,

Abrótea, um amor eterno

Em ti a saudade encerra.



Clara manhã de pascoela

E branco mês de Maria,

Fiz de balada singela

Toda a minha fantasia.



Minhas flores de primavera

Abróteas e brancas giestas

Ó saudade, quem me dera

Assear o caminho nas festas.



Minha montanha sagrada,

Vale das abróteas de Orfeu, 

Ó minha oração rezada

Por quem já tenho no céu. 





Frassino Machado

In ODISSEIA DA ALMA








quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

NAMORO WI-FI






«No Dia dos Namorados»

Aqui está o admirável mundo novo
O mundo da oportuna relação,
Tem espírito Wi-Fi, mas sem estorvo,
Este Namoro fora de convenção.

É sempre fácil a sua instalação,
Se houver percalço logo haverá renovo,
Sua divisa é a fonte da emoção
Na alma sempre cheia como um ovo.

É curta a duração no seu processo
Não é namoro, é apenas um andar
Tão só por entre gente, num acesso
Que tem seu tempo pra se revelar.

Estranha forma de viver e de sentir,
Sinal dos tempos e estranha liberdade
Que não ganha raiz nem tem porvir
Mas é o fruto cabal da pós-verdade…

Namoro wi-fi, ao modo de São Valentim
Ah, isso não … Só se correr o marfim!

Frassino Machado
In OS FILHOS DA ESPERANÇA


terça-feira, 25 de agosto de 2015

PALAVRA RIO-BRAVO



                   















“A Roland Barthes”

À morte, à morte, já morreste, ó escritor
Da palavra emergente em plena madrugada,
Meu rio-bravo de alma branca germinada
Pela inefável lira das mãos do criador.

À vida, à vida, renasceste ó bom leitor,
No fio de uma mariposa feita espada
E é mesmo para ti - por ti assim pensada -
Porque és a vida deste eterno e grande amor!

Palavra rio-bravo, horizonte e harmonia,
Meu cálamo sagrado feito poesia
Silvestre alfobre d´ água pura em cada tina…

Quero fazer de ti mensagem lenitivo
Que eu, autor, não serei jamais o objectivo
Mas apenas, e só, a alma cristalina!

Frassino Machado
n JANELAS DA ALMA


quarta-feira, 22 de julho de 2015

O CARISMA DE FRANCISCO



                       














“Ao Papa Francisco”


Francisco, o irmão afável de todos os irmãos,
O irmão sensível com todos aqueles que sofrem,
O irmão de todos os que na vida se consomem
E daqueles que nas agruras se sentem vãos.

Francisco, o irmão dos pobres sejam ou não cristãos,
O irmão sorriso com todos aqueles que não dormem,
O irmão de todos os que à míngua nunca comem
E daqueles que sempre teimam em não dar as mãos… 

Francisco, o irmão de todos os que não têm tecto,
O irmão de todos os que vegetam sem afecto
E de todos os que na paz lutam contra a guerra.

Francisco, o irmão de todos os que não têm trabalho,
O irmão de todos os que não sabem o qu´ é agasalho
E de todos aqueles que nunca tiveram terra.

Eia, Francisco irmão, todo o mundo te deseja
Não temas nunca, não, aqueles que te têm inveja
E intentam colocar teu rebanho em tresmalho!


Frassino Machado
In ODISSEIA DA ALMA


NO REINO DE LEVIATÃ





























Sem distinção entre quantidade e qualidade,
Sem distinção entre o qu´ é bem e o qu´ é mal,
Sem distinção entre o qu´ é ficção e o qu´ é real,
Está desta maneira a imberbe Humanidade.

Sem diferença entre as trevas e a claridade,
Sem diferença entre o qu´ é correcto ou marginal,
Sem diferença entre o qu´ é livre ou radical,
Está nesta contingência a humana Identidade.

Sem ponderar entre haver ordem ou anarquia,
Sem ponderar entre o qu´ é lei e o qu´ é sorte,
Sem ponderar entre o qu´ é vida e o qu´ é morte,
Está nesta engrenagem a humana fantasia.

Onde está a razão dos princípios e valores
Que a inteligência humana de longe arquitectou,
E onde estão os direitos qu´ a alma consagrou
Na dimensão da Arte e dos dignos criadores?

No reino de Leviatã, dos abutres e chacais,
Que enredam e devoram sempre e sempre mais!


Frassino Machado
In RODA-VIVA POESIA


DA DEUSA EUROPA À GRÉCIA




                           “O Labirinto de Berlim”


Afinal Zeus não era assim tão persuasivo
E a bela Europa acabou por se enamorar
Da triste Hélada enfraquecida e a chorar 
Naquele selvático labirinto vingativo…

O gesto de “Teseu” tornou-se decisivo,
P ´ro tributo de Hélada se transfigurar
E a esp´ rança para Atena voltou abrilhantar
Um horizonte lógico, amplo e objectivo.

Foi de Zeus a paixão por Europa divinal
Que, ao vencer o Minotauro, o ínclito Teseu
Cortou o nó de górdio soltando o Prometeu
Que no banquete lauto fora manancial.

Ao contornar o labirinto envinagrado
A diva Europa e Atena voltaram ao festim,
Num debate bem aberto, que é mesmo assim,
Restando conhecer se foi Minos liquidado…

E se houver de faltar a justa prevenção
Que este combate sirva a todos de lição!

Frassino Machado
In RODA-VIVA POESIA

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terça-feira, 16 de junho de 2015

SENHORAS DO MONTE BENDITAS




“Oração às Três Virgens do Monte”


Nesta Montanha Sagrada
Qual abençoado troféu
Deixo minha prece beijada
Aqui tão pertinho do céu.

Nossa Senhora da Lapinha
Escuta a minha oração
E por favor encaminha
O meu frágil coração.

Nossa Senhora do Monte
Fonte de bênçãos celestes
Livra-me de um horizonte
Cheio de ventos agrestes.

Nossa Senhora da Guia
Com aroma de rosmaninho
Confirma-me dia a dia
O meu correcto caminho.

Senhoras do Monte benditas
Que aqui estais vigilantes
Afastai-me das desditas
De todos os ruins governantes.

E nas horas da tormenta
Ou da dura enfermidade
Aspergi com água benta
As chagas da fealdade.

Senhoras do Monte sagrado
Neste mar de solidão
Dai a paz ao mundo errado
E a doce luz da salvação!

Frassino Machado
In ODISSEIA DA ALMA


AMOR ETERNO




Numa aurora de Junho, ó Mamã, tu partiste
Em suave brisa, mas sem me dizeres adeus,
E eu por aqui fiquei solitário entre os meus
À espera duma prenda que ontem assumiste.

Recordas-te, mamã, da vontade que sentiste
De irmos colher ameixas, da cor dos olhos teus,
Ao veres a cerejeira subida até aos céus
Os seus rosados frutos logo preferiste?

- Vai, Nino, trepa àquele ramo qu´ está cheio
E corta duas ou três rocas mais maduras.
Mas, tem cuidado, não te metas em loucuras
E vai de pés descalços só até ao meio…

Eu lá subi, colhi e lancei-te pro avental
E tu sorriste ternamente: - Anda daí,
Vamos sentar-nos nas escadas do quintal…

Recordas-te, mamã, da saborosa merenda -
Cerejas e bom pão, que nunca mais comi - 
E da promessa que fizeste de uma prenda? 

Que era «amor eterno» e… saudades de ti!

Frassino Machado
In ODISSEIA DA ALMA


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sábado, 13 de junho de 2015

OUVI-ME VÓS






                           “No Dia de Santo António”

Vendo tão grande aridez
Nos homens de alma vazia
Frei António duma só vez
Fez jus à sabedoria.

Deixou praças foi ao mar
À praia os peixes chamou
E com um mágico pregar
Fez sermão qu´ os encantou.

“Irmãos peixes, meus irmãos,
Tenho que vos confessar
Meus argumentos são vãos
Para os homens conquistar.

É tal a humana loucura
Que em todos já fez cegueira
E toda a reles criatura
Põe a Deus na prateleira.

Em cada dia que passa
Nos mais escassos momentos
Vemos um mundo sem graça
Rodeado de tormentos.

Todo o poder instaurado
Passa ao lado das verdades
Cada projecto engendrado
É uma feira de vaidades.

Para eles só há negócio,
Esquecem Deus o tempo inteiro,
Nem casamento nem divórcio
Só um Deus: o seu dinheiro.

Vós, porém, com toda a estima,
Viveis bem e tomais tino,
Sois de Deus a obra-prima
E conheceis o vosso destino.

Mas sois filhos da natureza,
Não vos podeis esquecer,
Que entre vós, com certeza,
O mesmo pode acontecer.

Os mais de vós sois pequenos,
Tendes migalhas e pouco mais,
Se não conheceis os terrenos
Sereis carne pr´ os demais.

Quando temeis sois cardume
Fica-vos bem a união
Os maiorais têm ciúme
Puxando p´ ra si a razão.

Vós, peixes, sempre quereis
Da vida tirar proveitos
Mas os fortes, como sabeis,
Tomam conta dos direitos.

Abri bem os vossos olhos
E refreai vossas escamas
Para escapar aos escolhos
E ao perigo das tramas.

E vós, ó peixes maiores,
Que vos julgais invencíveis
Destruí vossos horrores
Pois também sois perecíveis.

Para os oceanos bem fundos
Levai a vossa tirania
Perante os fracos sois imundos
E não julgueis ter valentia.

Há redes para os pequenos
E pr´os maiorais há arpões
Contai c´os humanos venenos
Que vos matam as ilusões.

Há mares baixos e estreitos
E há imensas maresias
Há sargaços e há defeitos
E ninguém vê serventias.

Peixes de todos os tamanhos,
Iguais mas sempre diferentes,
Não queirais por entre estranhos
Serdes comidos p´ las gentes.

Não sei que mais vos direi
Apenas que sejais felizes
Convosco a Deus pedirei
Para vos livrar dos deslizes.

Acreditai nas esperanças
Dos mares azuis de bonança
E p´ ra terdes águas mansas
Uni guelras sem tardança.

C´ os homens nada a fazer
Pois qu´ o bem já não os seduz
E, quanto ao como devem ser,
Preferem as trevas à luz.

Coitada da Natureza,
A terra, o mar e o ar,
O homem é uma tristeza
Vós, Peixes, sois d´ encantar!”

Frassino Machado
In JANELAS DA ALMA


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