sexta-feira, 14 de março de 2014

REQUIEM À MUSICALIDADE POÉTICA


"Aos poetas sonhadores II”

Não se trata, ó poetas, de mera abstracção
Esta avalanche desmesurada de poesia
Num caudal pluvioso de banais escritores
Que não sendo poetas afirmam que o são
E assim vai a poética nesta desarmonia
À procura de achar o leme dos seus valores.

Há sílabas, palavras e frases com sentido
Na fluência que é própria de toda a linguagem
Mas, todavia, não chamemos a tudo verso
Pois que o sentir da alma ficará pervertido
Pelo recurso palavroso de vil mensagem
Que em conceito poético fica controverso.

A alma da Poesia tem sempre movimento
Na musicalidade que lhe vem da estética
E até das formas corporais de composição…

Mas não, o que se vê no quotidiano evento
Do mundo literário a que se chama poética,
É apenas e só um REQUIEM de presunção!

Frassino Machado
In RODA-VIVA POESIA

quarta-feira, 12 de março de 2014

CONFISSÃO DO POETA



                                               “Aos poetas sonhadores”

Sou poeta e me confesso
Das minhas exultações
Com sentimento disperso
Navego por emoções.

Sou poeta e reconheço
Ser tão pouco entre os demais
Pois cada dia recomeço
Outras metas desiguais.

Sou poeta e considero
Ser diferente na verdade
Mas ao sê-lo desespero
Nesta minha qualidade.

Sou poeta e me confirmo
Como poeta sonhador
Mas aceito e muito estimo
Doutros poetas o valor.

Sou poeta e me arrependo
Da minha triste vã glória
Por isso hoje me emendo
Dando a mão à palmatória.

Sou poeta mas quero ser
Igualmente um aprendiz
Outros poetas eu vou ler
Pra quebrar este verniz.

Doravante aceitarei
Haver poetas noutros trilhos
E dos seus poemas direi
Que os encaram como filhos.

Todas as flores são belas
E da natureza expressão
Quantas poesias singelas
Por certo também o são.

Da nobre poética o mundo
Tem horizonte sublime
O poeta sonhando fundo
A sua paixão exprime.

A Poesia é insondável
Cada poema é uma ternura
O seu crescer é admirável
E dá corpo à aventura.

Ao ser poeta sou diferente
Vejo as coisas com espanto
Todos os poetas são gente
E fazem poemas de encanto.

Cada poesia é uma arte
Tem sentido e tem momento
Se és poeta, comigo reparte,
Este mesmo sentimento!


Frassino Machado
In ODISSEIA DA ALMA


terça-feira, 11 de março de 2014

POÉTICA



«Amor supremo, suprema arte»

Pela consciência do contexto universal
Passa por nós do amor supremo a Dimensão
Que no brilho do agir fez tudo o que é real
E ao próprio homem tornou belo o coração.

Nas grandes coisas dá sentido à emoção
Levando a compreensão ao mundo natural
E nos humanos feitos, à luz da razão,
Concede ao poema uma força genial.

Amor supremo, suprema arte a dos poetas,
Eis aqui toda a plenitude do Universo
Numa torrente de palavras feitas verso…

Há que cantar, até nas coisas mais discretas,
O verdadeiro Amor com alma generosa
Na partitura de uma Lira graciosa.

Se o Amor supremo se tornar suprema Arte
Tu, ó poeta, serás feliz em toda a parte!

Frassino Machado
In ODISSEIA DA ALMA


domingo, 9 de março de 2014

MULHER-ÁRVORE



«Dia Internacional da mulher-explorada»

És a mais bela árvore de feição soberana
Que alguém plantou neste admirável Universo
Entre os singelos seres de cariz complexo
Alguma vez criado p´ la razão humana.

Teu corpo em espiral assente em chão diverso
Contrasta firmemente em amplo panorama
E cada frágil ramo como porcelana
Dá vida às folhas que renascem no teu berço.

Cobrem-te as flores desta fresca primavera
E matas com tua água a sede dos amantes
Esquecendo-se eles da tua vida austera.

De ti brotam momentos sempre confiantes,
Naquela esperança que às vezes é severa,
Tornada sonho entre os sonhos suplicantes.

Ó mulher-árvore deste vergel manancial
Faz que os teus frutos possam tornar cambiantes
Os negros corações das mentes de cristal.


Frassino Machado
In JANELAS DA ALMA


terça-feira, 4 de março de 2014

AS MÁSCARAS DO MUNDO (*)


À memória de
Anna Politkovskaia

Passam no Palco do Mundo
Do nascer ao pôr-do-sol
As horas do mal profundo
E as vidas em arrebol.

Passam no Palco da Vida
Desde o ventre até à tumba
As pancadas da desdita
E os desvios na penumbra.

Passam no Palco das Gentes
Do Oriente ao Ocidente
As venturas indigentes
E os projectos sem presente.

Passam no Palco das Modas
Desde as vilas às cidades
As paixões com brutas rodas
E o desfile das Vaidades.

Passam no Palco do Estado
Desde as tendas aos palácios
As propostas do Embuçado
E o discurso sem prefácios.

Passam no Palco das Feiras
De manhã até à noite
As bancas das vendedeiras
Num rodopio de açoites.

Passam no Palco dos Astros
Pela aurora matinal
As estrelas com seus rastos
Em alterne desleal.

Passam no Palco das Trevas
Entre pântanos abissais
As Cruzadas “medievas”
Em chacinas magistrais.

No Palco dos Potentados,
P’ ra terminar esta saga,
Passam orgias e fados
Em triste noite aziaga.

E assim as máscaras do Mundo
De frustradas intenções
Cavam vazio profundo
Em todos os corações!

Frassino Machado
In MONTE ALVERNE
          


(*) – Poema premiado em Itália, no Concurso «Pensieri in Versi 2006»

www.frassinomachado.net