terça-feira, 25 de dezembro de 2012

A FEIRA DOS PRESENTES



Tanto que há para comprar
Neste mundo de ambição
Com tão pouco para ofertar
E um vazio no coração.

Há festins e há eventos,
Com razões para festejar,
Na feira dos sentimentos
Tanto que há para comprar.

Com a vida despontando
E prendas de mão em mão
O carinho vai minguando
Neste mundo de ambição.

Esta feira dos presentes
É mesmo o que está a dar
O instinto preenche as mentes
Com tão pouco para ofertar.

Ódios, invejas, patranhas,
Ciúmes, guerras em vão,
Vaidades, taras estranhas
E um vazio no coração.

Não há Natal que resista
A esta falência medonha
Sem a amizade prevista
Fica uma vida enfadonha.

Frassino Machado
In RODA VIVA

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domingo, 23 de dezembro de 2012

AOS PROFETAS DE MORFEU




  (No “Dia do Fim”, em 21-12-2012)

Palavras ditas pela boca dos profetas
Arremessadas para o ar p´ la mão do vento
São pedras sem remédio e nuas de fermento
Que para eles voltam como negras setas.

Profetas do vazio e ideias incompletas
Ditam o fim dos tempos como sentimento
Levando a confusão às mentes e o tormento
Em vez da paz e da esperança às almas rectas.

Não, para eles é que está chegando o termo
Pois certamente vão pregando em mundo ermo
Um doutrinário sem sentido e sem razão.

Esquecem desse fim a sua nova aurora,
Novo princípio, nova luz e novo agora,
Trazendo a cada ser a pura redenção…

Não, vade retro, maldizentes de Morfeu,
O mito que criastes, esse, já morreu 
E a vós restar-vos-á a triste aberração!

Frassino Machado
In JANELAS DA ALMA

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

NUVEM BRANCA



Eu gostaria que fosses
Uma nuvem muito branca
Para viagens mais doces
Em brisa suave e franca.

Neste meu céu azulado
Há várias constelações
Num trilho delineado
Entre muitas emoções.

Nuvem branca, minha estrela,
Tens um brilho que seduz
Contigo irei sempre à vela
Guiando-me em tua luz.

Ó meu astro sedutor,
Meu esperançoso maná,
Quero sentir teu calor
Na frescura da manhã.

Nuvem branca de feição
Sonho ver-te minha fada
Dentro do meu coração
Fazendo nele a morada!

Frassino Machado
In JANELAS DA ALMA

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sábado, 17 de novembro de 2012

LOUCA EVA II



Confesso que esta Eva desconheço
De erotismo assumido com magia,
Não sei se é realidade ou fantasia
     Ou apenas uma chama de arremesso...

Nesta audácia fugaz me reconheço
Tomara que assim fosse um belo dia
Pois que a maçã por certo comeria
De Claribela aberta do avesso.

Desconcertada vai tua paixão
Na barca do destino sem parar
Meus sentidos levando à perdição.

Sim, qual Orfeu rasgando a densa treva,
Prometo que hei-de um dia abraçar
Aquela que se fez minha louca Eva !

Frassino Machado
In MUSA VIAJANTE

LOUCA EVA I














Nesta noite de Outono à luz do meu luar
E ao som de serenata bela apaixonada
Senti a tua voz num louco sussurrar
Ofertando em bandeja a fruta prateada.

Pude ler nos teus versos suaves a fluir
Um gesto de paixão sincera e de loucura
Ficando eu sem forças para resistir
Entregue e só com os meus laços de ternura.

Terei de ver os labirintos do Destino
Na terna confluência desta emoção
Para que a Sorte não me lance ao desatino…

Fiquei surpreso deste apelo aliciante
Para do tálamo acenar ao coração
Que é património desta Eva delirante!

Frassino Machado
In JANELAS DA ALMA

domingo, 11 de novembro de 2012

COTOVIA SONHADORA



Tu és aquela sonhadora cotovia
Que voas sempre sem parar no alto céu
À procura de um doce sonho sem labéu
Na ânsia de encontrar prazer e alegria…

A bela Natureza plena de harmonia
Enche o teu coração de luz e fogaréu,
Qual sentimento transformado em troféu,
Em busca de alguém que viva em sintonia.

És irmã gémea da esbelta andorinha
E enriqueces o teu canto a cada hora
Num alourado sonho longo e sem demora.

Voando na bonança fresca da tardinha,
Sem medo de morrer na brisa da quimera,
Esperas que regresse, enfim, a primavera!

Frassino Machado
In FRAGMENTOS DE VIDA


sábado, 3 de novembro de 2012

ILUSÃO AGRILHOADA



 Sempre tive horizontes na linha da vida
Que o meu destino resolveu arquitectar
E também sendas infinitas a passar
Pela minha sedenta alma tão sofrida.

Escrevo no meu livro uma história sentida
Com traços espantosos para recontar,
És tu a personagem a privilegiar
Numa aventura ousada agora renascida.

Chegaste a mim qual borboleta atraente
Com longas asas brancas muito perfumadas
E eu m´ espantei com o teu voo incandescente.

Enfrento agora esta ilusão agrilhoada,
Em mais este capítulo aberto à minha frente
De uma odisseia que vislumbro emaranhada.

Ai, por onde vagueias meu Orfeu perdido?
Faz marcação a esta Eurídice tresmalhada
E possa eu mais uma vez ser redimido!

Frassino Machado
In FRAGMENTOS DE VIDA

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

QUEM SEMEAR, COLHERÁ


              Lembrando 
                                                         Denis Diderot

Não partilhes só o alheio
Pensando que é divinal
Entra antes como meio
Na partilha original.

Não sejas repassador
Nesse mero devaneio
Para teres maior valor
Não partilhes só o alheio.

Sentirás outro sabor,
Um prazer mais natural,
Não há pecado pior
Pensando que é divinal.

Teu culto à Liberdade
Constituirá forte esteio
Por ter maior qualidade
Entra antes como meio.

Ao semear com elegância,
Cuidando do teu quintal,
Terás maior abundância
Na partilha original.

Proliferam as palavras
Num fogacho de estrelícia
Não passam de servis lavras
Sem prazer e sem delícia.

Neste universo aparente
Seja hoje seja amanhã
Joguemos nesta torrente:
Quem semear, colherá!

Frassino Machado
In FRAGMENTOS DE VIDA

terça-feira, 30 de outubro de 2012

BALADA DO POBRE


                                                 À memória de
                                           Adriano

Sou pobre abandonado
Nas terras de Portugal
Meu tesouro vai guardado
No forro do meu bornal.

Meus sentidos se perderam
Em ventos de tempestade
E os sonhos desvaneceram
Em suspiros de saudade…

Ó sortes do meu passado,
Nas curvas do mendigar,
Fazei-me regenerado
Para ao sonho regressar!

Sou pobre escravizado
Nas teias do meu país
E o futuro hipotecado   
Não tem húmus nem raiz.

A vida sem horizontes
Não me traz felicidade
Do alto daqueles montes
Quero ver a liberdade…

Ó sortes do meu passado,
Nas curvas do mendigar,
Fazei-me regenerado
Para ao sonho regressar!

Frassino Machado
In FRAGMENTOS DE VIDA

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terça-feira, 2 de outubro de 2012

A PRINCESA DOS MILHÕES



Era uma vez uma princesa,
Lá pr´ ós lados do sol-nascente,
Herdeira de grande riqueza
Com a idade de adolescente.
É ‘stória como nunca vi:
A princesa de nome Gigi
Espanta agora toda agente.

Sonharam os progenitores,
Por um processo virtual,
Fazer-lhe um casório d´ amores
Que fosse sensacional.
Mas por sorte de malmequeres
A princesa adora mulheres
Num gesto de cariz fatal.

Em golpe de malabarismo
Para atrair os corações
Ofer´ ceram, sem romantismo,
Um cabaz de muitos milhões.
Os Dom Quixotes, em desmaio,
Voaram p´ ra lá como um raio
Jurando genuínas paixões.

Porém a Princesa, coitada,
Não sabe o que há-de fazer
Recorre à Tevê inflamada,
Para o mundo a conhecer:
- Meu bom pai, agora já sei,
Que apesar de ser mulher-gay
Me tens como filha encantada!

Se tal casório não der fé
Ficará mera promoção
De uma estória de canapé
Saltitando de mão em mão.
E com este império brejeiro
De toque subtil financeiro
Renasce uma nova ilusão.

Frassino Machado
In RODA VIVA


quinta-feira, 27 de setembro de 2012

RÉPLICA A HELENA


     A Helena
     “Sem ser de Tróia”

Não sei a quem dedicas o poema
Tão cheio de erotismo e singeleza,
Bem forte de palavras com beleza,
Que descreve com garra o velho tema.

Há nele qualquer coisa de fatal
Que a todo o homem pode transtornar
Pois, mesmo que não queira, tem que dar
Perante tal mensagem o seu aval.

Helena, poeta Helena, é armadilha
Esta tua postura sem caução?
Se tal for como se há-de resistir?

Ressalvo em ti o belo e a maravilha,
Doutro modo não tenho coração
E um eros disponível p´ ra curtir!


Frassino Machado
In AO CORRER DA PENA


















SENHORA DA MANHÃ


                     À memória de 
                                    Teixeira de Pascoaes

Senhora da manhã de mil encantos
Que do espargir da noite me reclamas
És entre todas a mais fiel das damas
Com tua doce voz e suaves cantos.

Senhora dos meus dias sacrossantos
Que do corpo libertas suas chamas,
Em claras madrugadas tu derramas
Perfumes deliciosos em meus prantos.

Vem minha Musa, minha luz sincera,
A este caminhante que te espera
Qual astro cristalino e cintilante.

Nas jornadas que a vida propicia
És o meu barco à vela de harmonia,
Minha paz e farol estimulante!

Frassino Machado
In JANELAS DA ALMA