terça-feira, 16 de junho de 2015

SENHORAS DO MONTE BENDITAS




“Oração às Três Virgens do Monte”


Nesta Montanha Sagrada
Qual abençoado troféu
Deixo minha prece beijada
Aqui tão pertinho do céu.

Nossa Senhora da Lapinha
Escuta a minha oração
E por favor encaminha
O meu frágil coração.

Nossa Senhora do Monte
Fonte de bênçãos celestes
Livra-me de um horizonte
Cheio de ventos agrestes.

Nossa Senhora da Guia
Com aroma de rosmaninho
Confirma-me dia a dia
O meu correcto caminho.

Senhoras do Monte benditas
Que aqui estais vigilantes
Afastai-me das desditas
De todos os ruins governantes.

E nas horas da tormenta
Ou da dura enfermidade
Aspergi com água benta
As chagas da fealdade.

Senhoras do Monte sagrado
Neste mar de solidão
Dai a paz ao mundo errado
E a doce luz da salvação!

Frassino Machado
In ODISSEIA DA ALMA


AMOR ETERNO




Numa aurora de Junho, ó Mamã, tu partiste
Em suave brisa, mas sem me dizeres adeus,
E eu por aqui fiquei solitário entre os meus
À espera duma prenda que ontem assumiste.

Recordas-te, mamã, da vontade que sentiste
De irmos colher ameixas, da cor dos olhos teus,
Ao veres a cerejeira subida até aos céus
Os seus rosados frutos logo preferiste?

- Vai, Nino, trepa àquele ramo qu´ está cheio
E corta duas ou três rocas mais maduras.
Mas, tem cuidado, não te metas em loucuras
E vai de pés descalços só até ao meio…

Eu lá subi, colhi e lancei-te pro avental
E tu sorriste ternamente: - Anda daí,
Vamos sentar-nos nas escadas do quintal…

Recordas-te, mamã, da saborosa merenda -
Cerejas e bom pão, que nunca mais comi - 
E da promessa que fizeste de uma prenda? 

Que era «amor eterno» e… saudades de ti!

Frassino Machado
In ODISSEIA DA ALMA


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sábado, 13 de junho de 2015

OUVI-ME VÓS






                           “No Dia de Santo António”

Vendo tão grande aridez
Nos homens de alma vazia
Frei António duma só vez
Fez jus à sabedoria.

Deixou praças foi ao mar
À praia os peixes chamou
E com um mágico pregar
Fez sermão qu´ os encantou.

“Irmãos peixes, meus irmãos,
Tenho que vos confessar
Meus argumentos são vãos
Para os homens conquistar.

É tal a humana loucura
Que em todos já fez cegueira
E toda a reles criatura
Põe a Deus na prateleira.

Em cada dia que passa
Nos mais escassos momentos
Vemos um mundo sem graça
Rodeado de tormentos.

Todo o poder instaurado
Passa ao lado das verdades
Cada projecto engendrado
É uma feira de vaidades.

Para eles só há negócio,
Esquecem Deus o tempo inteiro,
Nem casamento nem divórcio
Só um Deus: o seu dinheiro.

Vós, porém, com toda a estima,
Viveis bem e tomais tino,
Sois de Deus a obra-prima
E conheceis o vosso destino.

Mas sois filhos da natureza,
Não vos podeis esquecer,
Que entre vós, com certeza,
O mesmo pode acontecer.

Os mais de vós sois pequenos,
Tendes migalhas e pouco mais,
Se não conheceis os terrenos
Sereis carne pr´ os demais.

Quando temeis sois cardume
Fica-vos bem a união
Os maiorais têm ciúme
Puxando p´ ra si a razão.

Vós, peixes, sempre quereis
Da vida tirar proveitos
Mas os fortes, como sabeis,
Tomam conta dos direitos.

Abri bem os vossos olhos
E refreai vossas escamas
Para escapar aos escolhos
E ao perigo das tramas.

E vós, ó peixes maiores,
Que vos julgais invencíveis
Destruí vossos horrores
Pois também sois perecíveis.

Para os oceanos bem fundos
Levai a vossa tirania
Perante os fracos sois imundos
E não julgueis ter valentia.

Há redes para os pequenos
E pr´os maiorais há arpões
Contai c´os humanos venenos
Que vos matam as ilusões.

Há mares baixos e estreitos
E há imensas maresias
Há sargaços e há defeitos
E ninguém vê serventias.

Peixes de todos os tamanhos,
Iguais mas sempre diferentes,
Não queirais por entre estranhos
Serdes comidos p´ las gentes.

Não sei que mais vos direi
Apenas que sejais felizes
Convosco a Deus pedirei
Para vos livrar dos deslizes.

Acreditai nas esperanças
Dos mares azuis de bonança
E p´ ra terdes águas mansas
Uni guelras sem tardança.

C´ os homens nada a fazer
Pois qu´ o bem já não os seduz
E, quanto ao como devem ser,
Preferem as trevas à luz.

Coitada da Natureza,
A terra, o mar e o ar,
O homem é uma tristeza
Vós, Peixes, sois d´ encantar!”

Frassino Machado
In JANELAS DA ALMA


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quinta-feira, 4 de junho de 2015

EL-REI DINHEIRO




Dos raros bens com valor
Que fazem parte da vida
El-rei Dinheiro é o maior
Com conta, peso e medida.

É a maior das invenções
Com as lágrimas do suor
E a melhor das emoções
Dos raros bens com valor.

Cura os males e fraquezas
Em felicidade contida
E é a melhor das riquezas
Que fazem parte da vida.

Sem dinheiro não há viver,
Não o ter dá lugar à dor,
E no que toca ao poder
El-rei Dinheiro é o maior.

Criar dinheiro é aventura
E uma paixão desmedida
Dá prazer e dá cultura
Com conta, peso e medida.

Homo sapiens fez história
Deixando de ser primitivo
Transformou dinheiro em glória
E até mesmo em lenitivo.

O El-rei Dinheiro fará
Tudo o que um homem quiser
Entre o bem e o mal estará
O sentido do seu viver!

Frassino Machado
In AO CORRER DA PENA


DIAS-CRIANÇA



                                “No Dia Mundial da Criança”

P´ los quatro cantos da terra
Num oceano de abundância
Canta-se um hino de guerra
A todos os seres da infância.

Guerra de falsa magia
Com lucros vis à ganância
Resulta bem neste Dia
Jurar um amor à criança

- Toma, lindinho, esta prenda
Gosto de ti à maneira
Tu ficas com a oferenda
E os papás dão-me a carteira.

Criança não pensa mas sente
Tudo para ela é ventura
À sombra de tanto presente
Às vezes fica a amargura.

Perante este assalto abjecto
Desta homenagem vazia
A criança supõe um afecto
Mas adivinha a hipocrisia.

Haverá todo o ano “criança”
Num sentimento profundo
Quando acabar esta dança
Em todos os cantos do mundo!

Frassino Machado
In JANELAS DA ALMA


quarta-feira, 3 de junho de 2015

SINAIS DOS TEMPOS



                                       "Meu cálamo digital”

Eu tenho um cálamo na ponta dos meus dedos
Sobre um ecrã ou teclas dum computador
Por ele se revelam a magia e o fulgor
E se desvendam cada dia os meus segredos.

São os sinais dos tempos com todo o rigor
Recriando os meus versos e os meus enredos
Numa saga que, olhando para lá dos medos,
Dão vida a nova era e frutos com sabor.

História que passou por entre gerações
Nascendo um testemunho que ora se comprova
Num horizonte vasto de inovações…

Nasceu um novo tempo e uma nova prova
De que existe outra luz e novas criações
Numa cultura que era velha e ficou nova.

Meu cálamo digital dá-me outras sensações,
Outro palco visual que agora se renova
Num sonho e numa alma prenhe de emoções!

Frassino Machado
In JANELAS DA ALMA