segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

SERENATA



Uma guitarra antiga nos penedos
Tangida por Virgílio ou por Horácio
Em ritmo de balada. Ágeis dedos
A repicar nas doze cordas de aço.

Cantavam como Hilários! Arremedos
Em tom bemol com um vibrato lasso
Até que a Aurora viesse manhã cedo
Render a lua branca no espaço.

Os trovador’s chegavam da Lamela
Dos Gémeos do Brasil de Bugalhós
Da Bouça Riba d’Ave…  A sua voz

Batia suavemente nas janelas.
E a porta já sem trinco ou fechadura
Abria-se à saudade e à ternura.


Abel da Cunha

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

NA EIRA



Há quanto tempo o milho está na eira!
Depois das estações não anda o rodo
A resguardar no alpendre o ouro todo
No fim de tanta tarde soalheira?  

Já não se ergue o malho. A canseira
Não segue regular o velho modo
Em que o suor se vê em cada poro
Como a água fluindo na regueira.  

Já não há espigas nem morrão nem barbas
Nem milho rei das noites desfolhadas
Ao som dos beijos e da concertina.  

Nem desce da colina o bom moleiro
Que vem trocar os grãos do meu celeiro
Pela brancura fina da farinha.    


Abel da Cunha

www.abelmachadocunha.blogspot.pt

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

PORTUGAL TRAMADO



Quão miserável é esta difícil trama
Sem conhecermos nós quem nos crucificou
Apenas só sabemos que s´ acrescentou
À nossa vida este colossal fantasma.

Cada dia que passa agrava-se o programa:
O trabalho que havia, esse desertou,
O dinheiro, já pouco, no bolso minguou,
Vai-nos faltando o pão e a saúde reclama…

Embora digam os ilustres maiorais
Que o sol há-de romper neste céu enevoado
O fim desta crise não mostra dar sinais.

Apenas se constata o ânimo arrasado
De todas as mulheres e homens nacionais
Em todo o Portugal à beira-mar tramado!

Frassino Machado
In JANELAS DA ALMA