"Premonição ao Dia Mundial da Poesia”
Nas Lusas Letras há quem escreva poesia
De forma disfarçada ou mesmo
envergonhada,
Um complexo talvez ou, quem sabe,
cortesia
Co´ a moda consumista dita de vanguarda.
Escrever bem é navegar no vanguardismo
E vestindo as roupagens do “também
alinho”
Garantirá estatuto, estilo e preciosismo
Com toda a pompa, circunstância e
burburinho.
Poesia, como Poesia, nem é bom pensar,
Ser versos, como Versos, parece ficção,
Mesmo podendo acontecer, se alguém
lucrar,
O conseguir que as Letras virem
animação.
Animação da arcaica árvore das patacas
A qual, ao agitar-se, resulta em
proveito
Mas contudo, se ali faltarem as estacas,
Ficará de imediato um vazio por defeito.
Na nossa tradição abundam os bons poetas
Todavia ninguém os lê nem os ensina,
Que as suas liras, dizem, já estão
obsoletas
E começa de se inventar outra doutrina.
Digam por aí aos quatro ventos noite e
dia,
Bastando dar sentido e agrado aos
torcedores,
Se houver letras e livros haverá poesia
Se não houver quem leia inventem-se
leitores.
É fino que se escrevam livros pra
mercado,
Mesmo com manigâncias e a fazer de
conta,
Quanto ao conteúdo se é ou não adequado
Para a Cultura o dano é de pouca monta…
Ó Poesia, quem já te viu e quem te vê,
Nunca como hoje tantos livros se
escreveram
Mas nunca como hoje falta quem os lê
Porque a paixão por ti e o brio se
perderam.
Importam-se polémicas e ortografias,
Inventam-se outras modas mas sem
consistência,
E vestem-se roupagens - falsas sinergias
-
Arte e Poesia (?), tenham lá todos
paciência.
Para haver boas Letras deve-se resistir
À onda vanguardista de razia estética
E na virtude da Tradição reconstruir
A alma da Poesia e da Cultura
Poética.
Dizem que há Ministérios, técnicos de
cultura,
Dizem que agora, sim, já temos condições
Mas só se vê, por todo o lado e com
fartura
Negócios, farsas, compadrios aos
milhões.
Dia Mundial da Poesia – Convenções –
Que faria, ó poetas, se não o houvera?
Quem sabe, acabariam todas as canções
E não voltaria mais a fresca
Primavera!
Frassino Machado
In ODIRONIAS
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