domingo, 30 de outubro de 2011

O POETINHA DE ITARARÉ

Silas Leite - O Poetinha de Itararé


Sucinta biografia do poeta Silas Correa Leite

Silas Correa Leite, Itararé-SP

Teórico da Educação, Jornalista Comunitário, Conselheiro em Direitos Humanos (SP).

Blogues: http://www.portas-lapsos.zip.net/ ou http://www.campodetrigocomcorvos.zip.net/

E-mail: poesilas@terra.com.br

TRÊS POEMAS

 PROCESSO
                      Eu estou sendo processado
                      Por dizer que um corrupto e ladrão é corrupto e ladrão
                      E o ladrão pode ganhar a causa

                      Eu estou sendo processado
                      Mas ele pode ser ladrão de quadrilhas e máfias liberais
                      Mas alguém dizer que ele é não

                      Eu estou sendo processado
                      Por dizer explicitamente o que jamais poderia ser dito
                      A justiça viça essa aberração

                      Eu estou sendo processado
                      Devia acreditar que ser ladrão pode e dizer que é não
                      Mas eis a triste interpretação

                      ...............................................

                      O poeta inocente condenado
                      O ladrão confiando no “status de sítio” da justiça
                      E ainda com sentença de impunidade transitado em julgado.


                                  C O I S A S

                  As coisas existem antes de nós
                  Apenas as continuamos
                  Ou não
                  O poeta mesmo com sua irrazão
                  É elo de continuação

                  As coisas sobrevivem depois de nós
                 -Além da razão -
                  As poesias mesmo
                  São eternas como centeio, trigo, aveia
                  Grãos

                  As coisas existem dentro de nós
                  Antes mesmo da concepção
                  Poemas nada mais são
                  Que íntimos aleijados
                  Querendo ser purificados
                  Nos escombros da perpetuação.

                                 M U L H E R

                  Você não sabe o que é
                  Dormir no escuro
                  O rastejar do verme
                  No monturo
                  E a mulher grávida mentindo
                  Dizendo : - Eu juro !

                  Você não sabe o que é
                  Dormir no claro
                  O respirar do objeto
                  No íntimo faro
                  E a mulher tossindo verde
                  Dizendo : - É ácaro !

                  Você não sabe o que é
                  Dormir sentindo
                  O controlar do medo
                  De morrer dormindo
                  E a Mulher - Noite sorrindo
                  Dizendo : - Benvindo !

                                            Silas Correa Leite
                                                      
                                                             *  
QUANDO EU MORRER

Quando eu morrer, se quiserem saber da minha vida
Digam que ao escrever poemas eu regurgitei
Tudo o que de ruim e doloroso recebi de heraa ao nascer.
O dia em que nasci foi o de deixar um outro mundo
E concebido nove meses antes de habitaa terra
Com a pior poluição do planeta, os chamados seres humanos.

Quando eu morrer, leiam meus poemas e me esqueçam
Eu fui muito mais o que escrevi do que eu mesmo
Cada lágrima, vagido, horror ou neura deixei em palavras
Minha mãe foi a solidão e meu pai foi um acordeom vermelho
A vida é só tristeza e eu nunca me coube direito em mim
Escrever foi a homeopatia que me salvou de ser hu mano.

Se eu quisesse a lua certamente me dariam o inferno
Se eu sonhasse castanhaassadas me dariam cianureto
Nas humilhações fui enfezado e isso mexeu com meus motores.
Capturei imagens, fugi no letral, habitei o mundo-sombra
Despossuí-me de mim para ser o sentidor, o louco varrido
A vida não me deu limões mas fiz limonadas de lágrimas.

Hoje eu olho tudo o que sou e tudo o que tenho como fruto
De mágoas, ojerizas, lamentos e decomposições do Eu de mim
E tenho medo, muito medo; um quase humano insatisfeito
Com meu destino trágico, as portas sensoriais abertas, e ainda
Os fantasmas que me nutriram e que se alimentam do meu ódio
E me parecendo com algum humano fujo dos cacos de espelhos.

Silas Correa Leite

2 comentários:

Frassino Machado disse...

PARECER CRÍTICO

O nome da pacata Itacaré entrou no noticiário – com perdão do lugar-comum – assim como Pilatos entrou no credo. Relacionaram-na com uma batalha que deveria ser decisiva para a Revolução de 30 – ou teria sido da Revolta reaccionária de 32?
Não importa. Importa, sim, que o que o humorista fez foi mostrar quão ridícula era a nossa grande imprensa, pois ela sabia que jamais haveria batalha nenhuma. Daí que o humorista ter a sua pretensão nobiliária com a assertiva de que sido aquela “a maior batalha dos tempos modernos, que não houve”.
Desviei o tema sobre o meu amigo, o poeta Silas Correa Leite, para seu torrão natal, Itacaré, dele passei ao Barão do mesmo nome, não foi apenas por divagação, mas também porque nunca aprendi a resenhar. E como o meu desejo é falar um pouco da obra desse vate de Itararé, fica evidente que estou em palpos-de-aranha. Porque – repito – nunca aprendi a resenhar.
Conheço dele apenas três livros: Assim escrevem os Itarareenses – que, como o título sugere, é uma antologia de autores locais – Campo de Trigo com Corvos – Contos – e Porta-Lapsos – Poemas.
Seus contos são contundentes, às vezes irónicos, não isentos de nonsense; outras tristes, buscando não mostrar sofridas lágrimas. Sua poesia, no entanto, que muitas vezes funciona como um chute na canela – desses que estão a dizer-nos, desperta ó cara! – é de uma originalidade a toda prova. Nelas a alma chã – porém fecunda – do nosso povo está sempre presente. Silas é um menestrel que canta não a gota de orvalho, mas o reflexo da primeira luz da aurora, quando o raio de sol extrai um minúsculo arco-íris de um nada líquido. Por isso é mister dizer – e constatar – que em seus versos há muito da cintilação do silêncio. Não do silêncio mortal da solidão, mas cheio da sonoridade canora dos pássaros matinais. Lê-lo em voz alta, isto é, ouvi-lo, é-se obrigado a deixar escapar, por entre um trejeito sonolento, o sorriso que é preciso rir durante o dia para que a vida seja menos árdua. Por isso – e por muitas outras subtilezas – ao ler a poesia de Silas e seus contos – lembro-me de Saramago, quando diz: “[...] mas há pessoas a quem atrai mais o duvidoso que o certo, menos o objecto do que o vestígio dele, mais a pegada na areia do que o animal que a deixou, são os sonhadores, [...]”
Silas Correa Leite é um sonhador. Oxalá ele nunca os realize, pois assim nunca deixará de sonhar.

Araken Galvão Sampaio,
Ou, em minha terra, Galvão.
Valença, Bahia, Brasil.

LEIA SILAS Literatura Contemporânea disse...

Gostei de ver meus poemas aqui, parabéns ilustre amigeurmão Frassino Machado. Abraços, longa vida