Silas Leite - O Poetinha de ItararéSucinta biografia do poeta Silas Correa LeiteSilas Correa Leite, Itararé-SPTeórico da Educação, Jornalista Comunitário, Conselheiro em Direitos Humanos (SP).Blogues: http://www.portas-lapsos.zip.net/ ou http://www.campodetrigocomcorvos.zip.net/E-mail: poesilas@terra.com.brTRÊS POEMAS PROCESSO |
Por dizer que um corrupto e ladrão é corrupto e ladrão
E o ladrão pode ganhar a causa
Eu estou sendo processado
Mas ele pode ser ladrão de quadrilhas e máfias liberais
Mas alguém dizer que ele é não
Eu estou sendo processado
Por dizer explicitamente o que jamais poderia ser dito
A justiça viça essa aberração
Eu estou sendo processado
Devia acreditar que ser ladrão pode e dizer que é não
Mas eis a triste interpretação
...............................................
O poeta inocente condenado
O ladrão confiando no “status de sítio” da justiça
E ainda com sentença de impunidade transitado em julgado.
C O I S A S
As coisas existem antes de nós
Apenas as continuamos
Ou não
O poeta mesmo com sua irrazão
É elo de continuação
As coisas sobrevivem depois de nós
-Além da razão -
As poesias mesmo
São eternas como centeio, trigo, aveia
Grãos
As coisas existem dentro de nós
Antes mesmo da concepção
Poemas nada mais são
Que íntimos aleijados
Querendo ser purificados
Nos escombros da perpetuação.
Apenas as continuamos
Ou não
O poeta mesmo com sua irrazão
É elo de continuação
As coisas sobrevivem depois de nós
-Além da razão -
As poesias mesmo
São eternas como centeio, trigo, aveia
Grãos
As coisas existem dentro de nós
Antes mesmo da concepção
Poemas nada mais são
Que íntimos aleijados
Querendo ser purificados
Nos escombros da perpetuação.
M U L H E R
Você não sabe o que é
Dormir no escuro
O rastejar do verme
No monturo
E a mulher grávida mentindo
Dizendo : - Eu juro !
Você não sabe o que é
Dormir no claro
O respirar do objeto
No íntimo faro
E a mulher tossindo verde
Dizendo : - É ácaro !
Você não sabe o que é
Dormir sentindo
O controlar do medo
De morrer dormindo
E a Mulher - Noite sorrindo
Dizendo : - Benvindo !
Dormir no escuro
O rastejar do verme
No monturo
E a mulher grávida mentindo
Dizendo : - Eu juro !
Você não sabe o que é
Dormir no claro
O respirar do objeto
No íntimo faro
E a mulher tossindo verde
Dizendo : - É ácaro !
Você não sabe o que é
Dormir sentindo
O controlar do medo
De morrer dormindo
E a Mulher - Noite sorrindo
Dizendo : - Benvindo !
*
QUANDO EU MORRER
Qua ndo eu morrer, se quiserem sa ber da minha vida
Diga m que a o escrever poema s eu regurgitei
Tudo o que de ruim e doloroso recebi de hera nça a o na scer.
O dia em que na sci foi o de deixa r um outro mundo
E concebido nove meses a ntes de ha bita r a terra
Com a pior poluição do pla neta , os cha ma dos seres huma nos.
Qua ndo eu morrer, leia m meus poema s e me esqueça m
Eu fui muito ma is o que escrevi do que eu mesmo
Ca da lágrima , va gido, horror ou neura deixei em pa la vra s
Minha mãe foi a solidão e meu pa i foi um a cordeom vermelho
A vida é só tristeza e eu nunca me coube direito em mim
Escrever foi a homeopa tia que me sa lvou de ser hu ma no.
Se eu quisesse a lua certa mente me da ria m o inferno
Se eu sonha sse ca sta nha s a ssa da s me da ria m cia nureto
Na s humilha ções fui enfeza do e isso mexeu com meus motores.
Ca pturei ima gens, fugi no letra l, ha bitei o mundo-sombra
Despossuí-me de mim pa ra ser o sentidor, o louco va rrido
A vida não me deu limões ma s fiz limona da s de lágrima s.
Hoje eu olho tudo o que sou e tudo o que tenho como fruto
De mágoa s, ojeriza s, la mentos e decomposições do Eu de mim
E tenho medo, muito medo; um qua se huma no insa tisfeito
Com meu destino trágico, a s porta s sensoria is a berta s, e a inda
Os fa nta sma s que me nutrira m e que se a limenta m do meu ódio
E me pa recendo com a lgum huma no fujo dos ca cos de espelhos.
Silas Correa Leite
2 comentários:
PARECER CRÍTICO
O nome da pacata Itacaré entrou no noticiário – com perdão do lugar-comum – assim como Pilatos entrou no credo. Relacionaram-na com uma batalha que deveria ser decisiva para a Revolução de 30 – ou teria sido da Revolta reaccionária de 32?
Não importa. Importa, sim, que o que o humorista fez foi mostrar quão ridícula era a nossa grande imprensa, pois ela sabia que jamais haveria batalha nenhuma. Daí que o humorista ter a sua pretensão nobiliária com a assertiva de que sido aquela “a maior batalha dos tempos modernos, que não houve”.
Desviei o tema sobre o meu amigo, o poeta Silas Correa Leite, para seu torrão natal, Itacaré, dele passei ao Barão do mesmo nome, não foi apenas por divagação, mas também porque nunca aprendi a resenhar. E como o meu desejo é falar um pouco da obra desse vate de Itararé, fica evidente que estou em palpos-de-aranha. Porque – repito – nunca aprendi a resenhar.
Conheço dele apenas três livros: Assim escrevem os Itarareenses – que, como o título sugere, é uma antologia de autores locais – Campo de Trigo com Corvos – Contos – e Porta-Lapsos – Poemas.
Seus contos são contundentes, às vezes irónicos, não isentos de nonsense; outras tristes, buscando não mostrar sofridas lágrimas. Sua poesia, no entanto, que muitas vezes funciona como um chute na canela – desses que estão a dizer-nos, desperta ó cara! – é de uma originalidade a toda prova. Nelas a alma chã – porém fecunda – do nosso povo está sempre presente. Silas é um menestrel que canta não a gota de orvalho, mas o reflexo da primeira luz da aurora, quando o raio de sol extrai um minúsculo arco-íris de um nada líquido. Por isso é mister dizer – e constatar – que em seus versos há muito da cintilação do silêncio. Não do silêncio mortal da solidão, mas cheio da sonoridade canora dos pássaros matinais. Lê-lo em voz alta, isto é, ouvi-lo, é-se obrigado a deixar escapar, por entre um trejeito sonolento, o sorriso que é preciso rir durante o dia para que a vida seja menos árdua. Por isso – e por muitas outras subtilezas – ao ler a poesia de Silas e seus contos – lembro-me de Saramago, quando diz: “[...] mas há pessoas a quem atrai mais o duvidoso que o certo, menos o objecto do que o vestígio dele, mais a pegada na areia do que o animal que a deixou, são os sonhadores, [...]”
Silas Correa Leite é um sonhador. Oxalá ele nunca os realize, pois assim nunca deixará de sonhar.
Araken Galvão Sampaio,
Ou, em minha terra, Galvão.
Valença, Bahia, Brasil.
Gostei de ver meus poemas aqui, parabéns ilustre amigeurmão Frassino Machado. Abraços, longa vida
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