sábado, 15 de fevereiro de 2014

A VELHA DA CANTAREIRA



                            "A Raul Brandão,
                             Pensador do mar…”

Chegado pela tardinha do Alto-Nespereira,
Passou Raul de humor um pouco angustiado 
Naquele mar da Foz, bastante assoberbado,
Cujas ondas varriam toda a Cantareira.

Crestada pelo tempo, com gesto eriçado,
Indiferente à maré de inverno costumeira,
Olhou aquela velha que ia passageira
Vomitando impropérios contra o mar irado.

- Ai Tóino, Tóino, má raios partam o mar,
Ai home dum cabrão que foste no batel
Deixando-me sem pão e a saber a fel…

- Ai Tóino, Tóino – e a velha sempre a gritar –
Se este maldito mar com fúria te engoliu
Raios me levem esta sorte que me fugiu…

E o bom Raúl continuou meditabundo
Desfiando, um a um, os males deste mundo:

- Ai velha de uma cana, com filhos a rodos,
E aquele ingrato mar que os levou a todos!


Frassino Machado
In MUSA VIAJANTE


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