sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

LIBERDADE ESCRAVIZADA


«A Saga do Homo Economicus»

                                               “Réplica a
Catarina Pinto Bastos”

Tantos séculos em luta
Por um sentido pra vida
Na mais sublime disputa
De liberdade repartida…

A essência primordial
Do ser humano pensante
É o desejo estrutural
De se tornar dominante.

Dominar e ser distinto,
Dos outros seres animais,
Satisfez o seu instinto
Entre os pares desiguais.

Do caminho a percorrer,
Quer no tempo quer na idade,
Precisou de convencer
Conquistando a liberdade.

Liberdade fez-se Lei
Que lhe deu dominação
E da vida se fez rei
Com a espada da razão.

Da ambição fez valor
E da energia a firmeza
Do orbe acordou senhor
P´ lo controle da riqueza.

Ao tê-la não quer mais nada,
Faz-se mesmo sedutor,
Em liberdade escravizada
Para ter poder maior.

Cada dia vai passando
Neste estranho horizonte
E a riqueza acumulando
No suor de cada fronte.

Da riqueza fez poder
Ela é mesmo a sua essência
Liberdade a acontecer
Só se for na dependência.

Tem poder quem tem dinheiro,
Mesmo sendo a menor parte,
E a lei desta vem primeiro
Porque a outra não tem arte.

Sem arte e sem condição
Aos quatro ventos da sorte
Para ganhar o seu pão
Fica escravo até à morte.

Onde mora a Liberdade,
Não me dizes viandante?
Quanto mais tenho saudade
Mais ela mora distante!

Frassino Machado
In ODISSEIA DA ALMA


A NOSTALGIA DO POETA



Vivo além do meu país
Numa ampla dimensão
Agrilhoado e infeliz
Com um vazio no coração.

Ando exilado entre gente
Pelas pedras da calçada
Sem passado nem presente
À espera da madrugada.

Não sei se ria ou se chore
Já esqueci esta verdade
Pedi ao coração que implore
A razão da ambiguidade.

Cai a chuva e passa o vento
Estou cansado da aventura
Nesta dor só me lamento
Pela vida de amargura.

Não sei se é barco ou canoa
Ou caravela à deriva
Dentro de mim desboroa
Uma tristeza cativa.

Quando parti de viagem
Com sonhos me diverti
                           Levava em minha bagagem
Uma esperança que perdi.

Busco encontrar um sentido
Para esta encruzilhada
Tenho o coração perdido
À borda da minha estrada.

Ó Musa do meu espanto
Que me puseste em dilema
Regressa com teu encanto
E traz-me um novo poema!

Frassino Machado
In ODISSEIA DA ALMA


terça-feira, 28 de janeiro de 2014

AINDA O NATAL


                               Mote de Miguel Cadavadas”

Um nascer como todos os nasceres
Rei Divino de todos os divinos
Mulher por entre todas as mulheres
Deus Menino de todos os meninos.

O homem-ser pelo seu deambular
Sonhando ser o rei de todos os seres
Reencontra como mistério singular
Um nascer como todos os nasceres.

Em Belém de Judá a sua estrela
Descobre num presépio entre bovinos
Recém-nascido pobre, coisa bela,
Rei Divino de todos os divinos.

Ao pé d´ Ele José, homem de bem,
Fez toda a sua oferta de prazeres
Escolhendo para Ele a santa mãe
Mulher por entre todas as mulheres.

Da cáfila selvagem os Reis Magos
Entre mensagens, cantando hinos,
Veneraram com prendas e afagos
Deus Menino de todos os meninos.

Ó homem, que caminhas entre perigos
E não tens uma estrela condutora,
Afinal, sendo um rei entre mendigos,
Tens essa Luz em ti a toda a hora!

Frassino Machado
                In JANELAS DA ALMA
                        
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quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

A GEA MÃE



Tão formosa, ó divina Gea maternal!
De ti nasceram as excelsas dimensões
E em ti brotam as desumanas condições
Que dão sentido à estranha vida natural…

O horizonte que te protege é magistral
As estrelas e o sol são tuas criações
Em ti viajam as distintas estações
E os dias e as noites de forma tão igual.

Por ti correm as águas dos rios e dos mares
De ti se faz colheita a fruta dos pomares
Num clamoroso hino ao verde das colinas.

Mas já se vão desnorteando as razões
E as trevas miseráveis das cruéis paixões
Secam na vida humana as crenças peregrinas…

Onde está, ó Gea Mãe, a tua qualidade
E onde habitam as virtudes genuínas
Dos filhos de Adão sem alma nem idade?

O tempora, o mores, quem reconstrói tuas ruínas? 

Frassino Machado
In JANELAS DA ALMA


REI POSTO



                                              “Cristiano, Bota de Ouro”


Há uma semana o rei morreu
A sua morte foi um desgosto
Mas nossa fé não esmoreceu
Pois que “pra rei morto, rei posto”.

Portugal é um país pequeno
A cultura assim o entendeu
Mas com entristecido aceno
Há uma semana o rei morreu.

Pantera Negra foi um rei
De uma só fé e de um só rosto
Pela saudade que fez lei
A sua morte foi  um desgosto.

Fez conquista da “bola de ouro”
Seu esforço bem o mereceu
É certo, perdeu-se um tesouro,
Mas nossa fé não esmoreceu.

Floriu uma outra revelação
Sem ninguém fazer contragosto
Com justiça houve coroação
Pois que “pra rei morto, rei posto”.

No mundo Ronaldo é lição
De um carácter a toda a prova
É um modelo pra Selecção
Pois mesmo perdendo se renova.

Qual herói para as multidões
Todo o mundo sua arte desfruta
Por entre um mar de emoções
É sempre um exemplo de conduta.

Duas botas de cor dourada
Fizeram dele um bom freguês
Dizendo o povo à desgarrada
“Nunca há duas sem haver três”!... 

Frassino Machado
In MUSA DOS ESTÁDIOS


O CÔNSUL PROSCRITO


A o som da tuba e do clarim da Pátria
R iscados vêm teu nome e pergaminho.
I magem cruel sem tempo redimido
S eguiste a tradição da herança mátria
T ocado p´ la aventura e p´ lo carinho.
I nclito cidadão incompreendido,
D eixaste na tua vida um nobre ideal
E m troca de um destino desvanecido
S inal de um fado providencial.

S aber e competência harmonizaste
O usando defender teu galardão
U niste os corações que conquistaste
S entindo em ti o fardo e a repressão
A os corpos inocentes que libertaste.

M emória da tua história nos ficou
E nobrecida em obras realizadas
N unca ninguém as fez ou praticou.
D iante destas chagas contempladas
E m cada hora sempre retratadas
S erás o herói que a Pátria hipotecou!

Frassino Machado
In JANELAS DA ALMA