Há
quanto tempo o milho está na eira!
Depois
das estações não anda o rodo
A
resguardar no alpendre o ouro todo
No fim
de tanta tarde soalheira?
Já não
se ergue o malho. A canseira
Não
segue regular o velho modo
Em que
o suor se vê em cada poro
Como a
água fluindo na regueira.
Já não
há espigas nem morrão nem barbas
Nem
milho rei das noites desfolhadas
Ao som
dos beijos e da concertina.
Nem desce
da colina o bom moleiro
Que
vem trocar os grãos do meu celeiro
Pela
brancura fina da farinha.
Abel
da Cunha
1 comentário:
Ora cá está o espírito da aldeia do nosso Minho. Eis a "pátria do milho e do pão dourado" que dourado era o suor das gentes do seu trato: a rabiça do arado, o puxar da enxada costumeira, o semear do grão nas leivas, a regar paciente dos pés rugosos e sieirentos, o mondar dos verdes larápios clorofilentos, o colher das espigas no tempo certo e o desfolhar paciente à luz do luar e da concertina! Era este o ciclo no coração rústico das gentes. Belo soneto-canção do tempo e da memória da alma. Frassino Machado
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