quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

NA EIRA



Há quanto tempo o milho está na eira!
Depois das estações não anda o rodo
A resguardar no alpendre o ouro todo
No fim de tanta tarde soalheira?  

Já não se ergue o malho. A canseira
Não segue regular o velho modo
Em que o suor se vê em cada poro
Como a água fluindo na regueira.  

Já não há espigas nem morrão nem barbas
Nem milho rei das noites desfolhadas
Ao som dos beijos e da concertina.  

Nem desce da colina o bom moleiro
Que vem trocar os grãos do meu celeiro
Pela brancura fina da farinha.    


Abel da Cunha

www.abelmachadocunha.blogspot.pt

1 comentário:

Frassino Machado disse...

Ora cá está o espírito da aldeia do nosso Minho. Eis a "pátria do milho e do pão dourado" que dourado era o suor das gentes do seu trato: a rabiça do arado, o puxar da enxada costumeira, o semear do grão nas leivas, a regar paciente dos pés rugosos e sieirentos, o mondar dos verdes larápios clorofilentos, o colher das espigas no tempo certo e o desfolhar paciente à luz do luar e da concertina! Era este o ciclo no coração rústico das gentes. Belo soneto-canção do tempo e da memória da alma. Frassino Machado